Conceito do Berço ao Berço – Cradle to Cradle Design

 

Do berço ao berço – cradle to cradle design

Acredito que este tema é extremamente oportuno, não só pela discussão que haverá em Copenhague, Dinamarca, em dezembro, para discutir as emissões globais de gases-estufa após 2012, quando o Protocolo de Kyoto expira, mas também porque está crescendo uma conscientização mundial de que se ficarmos dependendo da decisão de “meia dúzia” para ver se reduzem 5% ou 5,5% da emissão, não iremos a lugar nenhum, nem nossos filhos e netos irão!

Voltando à frase “do berço ao berço”.

Frase não muito elucidativa mas que contém um conceito genial, primordial, aplicável e fundamental nos tempos correntes.

Com todos os adjetivos anteriores, não quer dizer, no entanto, que seja de fácil implementação. Não o será quando a busca for exclusivamente pelo lucro de curto prazo e se a visão dos administradores for míope.

É um conceito desenvolvido por William McDonough e Michael Braungart, o primeiro arquiteto e o segundo químico, se não me falha a memória.

O conceito trata do desenho (projeto) de produtos e dos respectivos processos produtivos de modo que todas as partes (componentes e matérias primas) envolvidas na produção desses produtos possam ser totalmente reutilizadas em novos processos produtivos depois que estes produtos forem descartados.

Cabe esclarecer que não se deve confundir este conceito com reciclagem. É bastante diferente.

Um exemplo típico de reciclagem é o do papel. Após sua utilização (por exemplo de folhas brancas), a reciclagem do papel, no caso ótimo de economia de recursos e energia, irá produzir um papel de qualidade inferior e, talvez, meio pardo ou amarelado, por exemplo.

Isto é, o produto gerado na reciclagem demandou reprocessamento, consumo de energia e recursos, e o resultado foi um produto inferior ao original.

No conceito do berço ao berço (cradle to cradel design), o reprocessamento do produto descartado irá criar um novo produto de qualidade igual ou superior ao original. Isto não quer dizer que seja para a mesma aplicação ou para o mesmo mercado.

Além disso existe toda uma preocupação para que todo o processo de produção e as matérias-primas utilizadas sejam ecologicamente corretas e efetivas.

Quando o sistema estiver funcionando o círculo produtivo (produção – descarte -produção) maximiza o valor agregado sem prejudicar o ecossistema.

Alguns exemplos da aplicação deste conceito:

Lixo igual a comida.

Estranho? Mas imagine um produto que depois de utilizado pode ser descartado e com um mínimo de processamento pode se tornar, por exemplo, em fertilizante. Logo ele estará realimentando a cadeia em um função nobre, utilizado para agricultura e geração de alimentos.

Outro exemplo, embora não muito agradável à primeira vista, em vez de utilizar só fibras naturais de algodão, na indústria têxtil, cuja produção, do algodão, demanda uso intensivo de pesticidas, porque não utilizar fibras inteligentes biodegradáveis ou fibras que possam permitir o reprocessamento total, gerando novos têxteis, com novas cores ou aplicações.

Outros exemplos:

O governo chinês está construindo diversas cidades utilizando o conceito do berço ao berço (C2C Model). Se a China fosse construir todas as novas cidades de acordo com a tecnologia convencional, provavelmente não existiria cimento nem tijolo, no mundo, suficiente para atender sua demanda.

A Nike já tem um sapato/tênis desenvolvido segundo o conceito C2C.

Algumas críticas que lí sobre o modelo:

Segunda minha última pesquisa na Internet, a MBDC, link abaixo, empresa do McDonough e Braungart, mantem exclusividade na certificação do modelo C2C.

O que por um lado restringe a expansão da acreditação e validação do sistema, por outro lado, na minha humilde opinião, mantém a credibilidade e confiabilidade em quem possuir o certificado.

Como sabemos, e é, hoje, um lugar-comum, dizer que qualidade não é mais um diferencial é uma condição básica para concorrer no mercado.

No entanto, isto retrata a realidade de que todos estão produzindo com qualidade?

Será um posicionamento de marketing?

Ou é porque a proliferação de certificados ISO 9000 por todo o mundo, nivelou por baixo o que realmente é qualidade? Me desculpem, quem “suou” para obter o certificado, mas tem muita gente que não “suou” tanto assim…

Anos atrás, escrevi sobre a proliferação de certificados 9000 (qualidade), 140000 (ambiental), aquela “confusão” toda com a Sarbanes-Oxley (a famosa SOX) para pôr ordem no mercado financeiro, o acordo de Basiléia II (bancos), e vejam no que deu em 2008, com a crise mundial financeira!

O que está faltando é ética, valores, transparência, responsabilidade e vontade de corrigir décadas de desvio dos valores morais e sociais, e de educação e princípios básicos de convivência comunitária e respeitosa.

E, não tem certificado nenhum que vai concertar isso!

Referências:

Sobre o “Cradle to Cradle Design”:

http://en.wikipedia.org/wiki/Cradle_to_Cradle

http://www.mbdc.com/index.htm



15 respostas para “Conceito do Berço ao Berço – Cradle to Cradle Design”

  1. Oi, já tinha visto um documentário sobre a dupla mencionada na “TV Escola”, infelizmente poucos dão atenção a este canal, revendo hoje mais uma vez o documentário resolvi pesquisar sobre o assunto e encontrei seu Blog, pelo que vejo este novo paradigma não chegou ao conhecimento da maioria dos formadores de opnião, veja vc que sou o primeiro a escrever um comentário aqui, estava procurando uma versão do livro C2C em português mas percebi que mais uma vez ninguém se interessou pela publicação da obra, só me resta comprar o original em Inglês que felizmente domino bem. Vou adicionar seu Blog aos meus favoritos e acompanhar o seu trabalho e ajudar no que for possível na divulgação do seu projeto e tentar levar a mais cidadãos soluções para um mundo melhor. Um abraço e Boa Sorte, Mauro.

    1. Olá Mauro,

      Muito obrigado pelas suas palavras e pela sua ajuda.
      Pessoas como você é que fazem a “grande diferença” para um mundo melhor.

      Além da TV Escola, tem também alguns outros canais por onde eu gostou de “navegar”: TV Cultura, History, Discovery, Management TV, People & Arts Travel, etc.; canais que nos tragam cultura, conhecimento e divertimento saudável.

      O C2C eu descobri “navegando” pelo Management TV, se não estou enganado, e, ao final do documentário, o Braungart (um dos idealizadores do C2C) termina dizendo que basta o engajamento de 5% da população para que grandes transformações sejam possíveis.

      Ele, inclusive, cita uma conversa que ele teve com Gorbachov, onde o líder soviético lhe disse que ele só tinha em torno de 5% de apoio para fazer as mudanças que queria na política soviética (que culminaram com a queda do muro) e foi com esse apoio que conseguiu fazê-las.

      Mudando de assunto, estou na fase final de um “pseudo”(pseudo, porque é um ensaio meu e eu não sou especialista, nem perto disso, em Teoria dos Grafos) modelamento matemático para demonstrar a viabilidade desta rede de empreendedores e em breve o publicarei aqui.

      Mais uma vez, muito obrigado pelo incentivo e pelo suporte.

      Um abraço,
      Mário Ferreira

  2. Gostaria de receber mais informações sobre “berço a berço” pretendo pesquisar mais sobre o assunto.

  3. Olá Mario Ferreira, como alguns amigos que se identificaram com este fantástico protocolo, eu tambem deixo aqui meu recado para fortalecer esta grande corrente, que será um grande divisor nas idéias relacionadas ao empreendedorismo mundial, pois na minha modesta opinião quem não se enquadrar neste conceito (berço a berço), verá ruir seu império, seja ele do tamanho que for.
    Digo isso, por tambem ter visto a matéria na TV ESCOLA, e o que eu destaco agora é o investimento feito pela FORD ROUGE CENTER que através de seu presidente Bill Ford entendeu e acreditou , aplicando no entorno da fabrica o reflorestamento, usando ao maximo a iluminação natural e modificou toda a estrutura do telhado, colocando uma camada de vegetação absorvendo e filtrando todo conteúdo das chuvas guardando em reservatórios e reutilizando no seu processo fabril. Desta forma toda a fábrica passou a agredir o meio em que estava e ainda economisou alguns milhões de dolares, onde muitos no início visualizaram somente despesas e perda de tempo.

  4. Só esqueci de mencionar que antes de todo esse processo de coleta de água a FORD usava o rio ROUGE que corre dentro de sua propeiedade desde o início .

  5. Olá Adelson,

    Muito obrigado pela sua exposição que além de muito boa, agregou a informação sobre a Ford. O que, com a iniciativa da Ford, demonstra que utilizando um pouco mais os “neurônios” é possível ter um negócio viável, minimizar o impacto no ambiente e ainda economizar dinheiro.

    Sem sombra de dúvida, como você disse, quem tiver um negócio que agrida o ambiente estará fadado a desaparecer. Pois cada vez mais a população está mais consciente e exercendo o direito de escolha de quem vai comprar produtos e serviços.
    Grande abraço,
    Mário Ferreira

  6. Olá Mário, como pode ver somente agora, quase um ano depois , por um feliz acaso, pude acessar seu trabalho. Estou cursando Administraçao Pública à distância pela UFOP e na disciplina Gestão Ambiental lecionado pela professora Dulce Maria Pereira, entrei pela primeira vez em contato com o tema “conceito berço a berço” que além de ser mais abranjente que simplesmente reciclar, ainda supera conceitos de “desenvolvimento sustentável” ou “ecodesenvolvimnento’, que não zelam pela meta de redução a zero dos resíduos sólidos nas atividades industriais e nem sustentam que os acordos internacionais de emissão de gazes do efeito estufa deva atingir níveis mais dignos. Quero compartilhar desse projeto esperando que nos envie mais reportagens a respeito. Comprometo-me em divulgar seu blog para que outros colegas participem desse nobre empreenldimento, abraços.

  7. Fiquei muito contente em encontrar o seu blog.Ja estou nesta a algum tempo, mas lendo sempre em ingles
    Sou uma pesquisadora deste assunto e tbem sou arquiteta, Continue a divulgar. Precisamos nos encontrar para criar um Cradle to Cradle grupo.
    Estou morando ainda nos EUA mas fazendo projetos sustentaveis e de carbono neltro no Brasil

    1. Olá Wilma,
      Muito obrigado por suas palavras. Ultimamente não tenho tido tempo para me debruçar sobre o assunto e desenvolver novos textos, mas continuo lendo sempre que tenho oportunidade. Acredito que o Cradle to Cradle, brevemente, não será mais uma opção, nem modismo, e sim uma necessidade e uma responsabilidade ambiental “não teórica” mas vital para a sobrevivência das gerações futuras.
      Cordialmente,
      Mario Ferreira

  8. Excelente post. Muito obrigada pelo breve contexto levantado à respeito do livro. Efetivei a compra, para iniciar pesquisas a respeito. Seu blog foi de grande orientação. Obrigada.

  9. Olá, Mário
    Sabe que eu também conheci este assunto no ano passado ou final do retrasado pela TV ESCOLA, tive oportunidade de assistir em duas ocasiões. Fiquei tão entusiasmada que passei a procurar muito sobre o tema aqui na internet mas sem resultados, poucas coisas em ingles!!! Este ano encontrei alguma coisinha que divulguei várias vezes no facebook, mas ninguém conhece, isso é impressionante. Hoje pensei em divulgar mais alguma coisa sobre o assunto no facebook e encontrei o teu site. Foi um grande prazer. O que gostei muito no documentário foi saber que os dois utilizam uma argumentação infalível com os empresários, que sempre foi a minha argumentação também: PROJETOS SUSTENTÁVEIS, AO CONTRÁRIO DO QUE PENSAM OS EMPRESÁRIOS, TRAZEM LUCROS SEMPRE MAIORES e vários tipos de benefícios.
    um grande abraço!
    Lúcia Branão ~

    1. Olá Lúcia,

      Muito obrigado pelo seu comentário. Já se passaram anos, desde quando escrevi estas pequenas anotações sobre o C2C e, no decorrer deste tempo, não tenho visto ações maiores, para a sua aplicação. Os discursos continuam muitos, mas casos de sucesso não tenho visto. Pode ser que esteja lendo as fontes erradas… mas não creio.

      Como você disse, é justamente essa visão de curto prazo e o de todos os anos buscar o aumento do “valor para o acionista”, que deve ser o maior impecilho para grandes empresas se esforçarem para mudar a perspectiva do “doing business”.

      Mas de uma forma ou de outra, essa responsabilidade terá que surgir, só esperemos que a “gestão da mudança”, para o processo responsável de produzir e de consumir, não seja traumática, ou, melhor, por causa de um “traumatismo ambiental”.

      Grande abraço,
      Mário

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