Um Processo Sistemático para o Desenvolvimento da Rede de Negócios para Empreendedores
A infra-estrutura utilizada é a da internet devido a duas propriedades fundamentais: o padrão de protocolo de comunicação que é mundialmente utilizado, obtendo, com isso, uma facilidade de intercâmbio de informações entre os componentes da rede; em segundo, a inteligência distribuída, isto é, a internet tem origem na rede militar Arpanet, cujo objetivo era em caso de ataque nuclear, em um ou vários pontos da rede, permitir que a rede continuasse funcionando e que a comunicação não dependesse de nenhum centro vital.
Outro aspecto, não menos importante, é seu aspecto social. Segundo o sociólogo e filósofo Gilles Lipovestky (apud MARCON, 2001, p. 33), a Internet:
“É um fator de dinamismo no desenvolvimento de novos serviços, pois
estimula o espírito de empreendimento e leva à iniciativa. O indivíduo se
torna um centro de decisão. Cada um tem a possibilidade de tornar-se um
microempreendedor, A rede favorece uma sociedade descentralizada, mais
autônoma e democrática, contrária à massificação.”
As referências de ações bem sucedidas e dos números da internet também endossam a escolha desta infra-estrutura para sediar o desenvolvimento da rede. O ebay, site de leilões e compras, fundado em 1995, tem 168 milhões de usuários; o napster, um site de troca de arquivos, fundado em 1999, tem 500 mil assinantes pagantes; o amazon.com, loja on-line, fundado em 1994, tem mais de 35 milhões de clientes; o submarino, empresa de comércio eletrônico, fundado em 1999, tem 7,5 milhões de visitantes mensais e 2 milhões de clientes cadastrados; easyJet, site para compra de passagens aéreas com tarifas econômicas, fundado em 1995, atendeu 30 milhões de passageiros em 2005 (NAUGHTON, 2006).
A linha de desenvolvimento da visão sistêmica e conceitual, do presente trabalho, tem por objetivo o fortalecimento e a criação de clusters, e a sua
interconexão, no entanto, não sendo excludente a possibilidade de agregar à rede uma iniciativa individual, que devido a propriedades geográficas ou a especificidades da iniciativa não se enquadre em grupos, clusters, ou nós da rede.
Observa-se, na atualidade, uma mudança das configurações de concentração local produtiva, anteriormente, tipo marshalianas – em referência a Alfred Marshall que, em 1919, desenvolveu uma explicação teórica que justificava a existência de economia de escala para um processo de produção geograficamente concentrado (MARCON, 2001) – para uma configuração de rede aberta. A rede local é integrada a redes globais de produção, circulação e utilização dos conhecimentos. Em conseqüência, tem-se o deslocamento do foco dos recursos críticos para a gestão do fluxo de informação global e para a gestão de módulos organizacionais complexos (SEBRAE, 2006d).
Para o desenvolvimento da visão sistêmica e o desenvolvimento da rede, inicia-se o processo com um estudo inicial, no qual é elaborado um levantamento dos clusters existentes, e das regiões com potencial para a criação de novos clusters, é feito um mapeamento e é planejada a intervenção individualizada, por cluster, de acordo com as fases seguintes (WATTIER, 2006):
- Estudo prospectivo;
- Conscientização;
- Formação;
- Iniciação;
- Acompanhamento.
No estudo prospectivo é efetuado um levantamento dos participantes existentes e potenciais, e, com cada participante, são avaliados os processos de gestão existentes, os recursos informáticos existentes, o estilo de gerenciamento, os fatores culturais da organização, as informações estratégicas necessárias ao negócio, quais os processos prioritários e que agregam valor, os problemas de concorrência e cooperação, quais as possíveis sinergias e coadaptações possíveis.
Na próxima etapa, é desenvolvida a conscientização por meio de uma série de palestras e debates com a apresentação do projeto, os objetivos e os resultados que advêm de sua implementação.
A fase seguinte é a da formação dos gestores e dos principais quadros das organizações participantes do cluster. A formação visa, além de transmitir as melhores práticas de gestão, transmitir os conceitos de rede de inteligência econômica, os processos de inteligência de negócios e de comercio eletrônico para que possam interagir, aproveitar as oportunidades e as sinergias, e evoluir com a rede. Esta fase também tem por objetivo mitigar a taxa de mortalidade de empresas que, de acordo com estudo do SEBRAE (2006b), tem como principais causas as falhas gerenciais na condução dos negócios.
Em seguida tem-se a fase de iniciação que é composta de seminários internos, nas organizações, e reuniões temáticas, cujo objetivo é o comprometimento individualizado, por organização, e a definição do grupo responsável pelo desenvolvimento, acompanhamento e a facilitação da implementação do projeto. Também são efetuadas reuniões temáticas, onde os participantes, representantes das organizações do cluster, trocam experiências, discutem as dificuldades e os avanços obtidos.
Por último, tem-se o acompanhamento, que por meio da criação do grupo de projetos estratégicos e que reagrupa os participantes efetivamente engajados na implementação e início da operação do projeto de desenvolvimento da rede. Grupo este que, com metodologias, recursos técnicos, jurídicos, econômicos, faz a avaliação dos processos implementados, dos resultados e a realimentação, de possíveis correções, que se faça necessária à estratégia em execução. O acompanhamento deve ser perene e sempre como foco na melhoria dos processos e agregar valor e informação estratégica à rede.
O próximo passo do projeto, com os clusters reorganizados, é a sua interconexão e com isso potencializar a experiência e a informação adquirida, pelas experiências pontuais, e, com isso, incrementar a informação e o potencial econômico e estratégico da rede.
Embora o presente estudo tenha o objetivo de contemplar uma visão sistêmica do processo de organização de redes de empresas, não será fora do escopo considerar o que Bertalanffy apud Marcon (2001, p. 184) concluiu sobre uma análise sistemática: “É tão importante identificar o conjunto, a totalidade dos elementos e das relações entre os elementos quanto analisar independentemente os atributos de cada um deles”.
Portanto, um ponto fundamental é o arcabouço por onde fluirão as informações e se tecerão as relações, o qual é a implementação tecnológica da rede, que deve acontecer no ambiente da internet e desenvolvida em três estágios, de acordo com Hortinha (2002):
- O primeiro estágio consiste em um site estático, utilizado para comunicação um-para-muitos.
- O segundo estágio, onde o site permite uma interação simples, que disponibiliza informações sobre os produtos, serviços e preços. A comunicação continua sendo um-para-muitos.
- O terceiro estágio, onde o site se torna totalmente interativo, dinâmico, com vendas e permite a comunicação um-a-um.
Os objetivos estratégicos, com a utilização do comércio eletrônico no terceiro estágio, devem contemplar: redução dos custos de comunicação; aumentos da repetição de compras; aumento das vendas por segmento; melhoria dos níveis de satisfação dos clientes e a criação de valor adicionado no serviço a clientes.
Prezado Xará,
Como você vê a crescente onda de censura à internet para o Projeto de Rede de Negócios para Empreendedores?Pergunto isso, porque iniciada como uma censura, pode evoluir para o controle e regulamentação burocrática do Estado em determinados países, se é que você me entende, e prejudicar a evolução do segmento empreendendor. Tem cabimento esta minha preocupação?
Abraço,
Magnani.
Olá Magnani,
A censura é prejudicial em qualquer perspectiva e ambiente. No entanto, está-se a verificar uma nova tendência no “mundo virtual”, de uma convergência para este, do crime organizado, pedofilia, prostituição, etc,etc,etc.
Ou seja, os “amigos do alheio” já constataram que na rede fica mais fácil desenvolverem seus negócios e mais difícil de serem apanhados.
Logo, censura e controle vão ser necessários, infelizmente. Acredito que vai surgir uma “Interpol” especial, para trabalhar no mundo virtual, não tem outra saída.
Quando aos negócios, é aquele velho ditado: quem não deve, não teme.
Agora, a confiabilidade da “outra ponta” vai depender do grau de conexão que existir nessa rede de negócios, que é justamente isso que estou estudando e aprofundando, como cercar as várias variaveis, relacionadas a confiança, qualidade, rotas, centros, educacão, cultura, ambiente, etc.
Abraços
ML Ferreira
Prezado Ferreira,
Compelemtando o comentário anterior, acrescento que outro fator que pode limitar a cultura empreendedora está relacionada à atual crise econômica e financeira (mais financeira do que econômica), que foi gerada por uma política econômica neoliberal. Este neoliberalismo tende, agora, a ser limitado e controlado como já foi anunciado pelo Presidente dos EUA, inicialmente com o controle dos bancos. Pode a restrição ao neoliberalismo e o medo de uma nova crise, frearem a cultura empreendedora tão necessária nos momentos de crise, haja vistas que a visão empreendedora é mais arma para países e empresas saírem do buraco?
Abraço,
Magnani.
Não acredito, de forma nenhuma!
O verdadeiro empreendedor sempre o será.
O especulador, isso sim, vai ter suas manobras um pouco mais restritas. Mas não acredito que muito. Não vão conseguir controlar a especulação. Ou então vão acabar com os mercados financeiros, bolsa de valores, bolsa de mercadorias, etc. Aí, é o colapso generalisado do modelo econômico atual. Ninguém, nem nenhum país tem poder para impor isso.
O empreendedor pode sentir-se inseguro, e, no momento atual, postergar o “timming” para desenvolver novas iniciativas, e aguardar um pouco mais. Principalmente o pequeno empreendedor, que não tem capital sobrando, e não pode errar.
Esse neoliberalismo sempre foi para “meia dúzia”, grandes multinacionais, transnacionais, bancos, financeiras, mega-especuladores.
Para o “pobre mortal” e pequeno/médio empresário isso, com raras excessões, sempre foi um conto fantasioso e além das suas possibilidades.
Que, nas últimas décadas, a única coisa que viu, foram aumentar os impostos e a concorrência externa. Devido aos famosos planos econômicos falhos, forçados pelo FMI, que foram implementados no nosso País.
Há algum tempo, uns anitos, o Prof. Delfim Neto escreveu um artigo, cujo título era mais ou menos assim: Impostos da Finlândia e serviços da Botsuana ou Gana ou algo parecido…
Isso diz tudo!
Um abraço,
ML Ferreira