Redes Sociais e Desenvolvimento de Negócios

Introdução

Há algum tempo, tento equacionar uma correlação pragmática e fundamentada em modelos matemáticos entre as redes sociais e desenvolvimento de negócios para atender o projeto Rede de Negócios/Empreendedores, cujo projeto é o objetivo principal deste blog.

Até hoje não consegui uma modelagem que me satisfizesse, nem perto disso. No entanto vários pontos interessantes, ao longo desta pesquisa, fizeram-se claros e creio que cabem ser compartilhados com quem possa estar desenvolvendo pesquisa semelhante, ou mesmo com quem tenha algum interesse neste assunto de redes sociais e sua influência no ambiente de negócios.

Intuitivamente, há anos, também, é claro para mim de que o usufruto da interação nas redes sociais é vantajoso para pequenos e médios empreendedores. Só falta provar essa visão, matematicamente…

Nos próximos artigos, vou procurar resumir algumas perspectivas ainda em maturação sobre as redes sociais, a sua possível influência nos ambientes de negócios e não só em negócios, e apresentar algumas propriedades das redes e de sua relação com estudos de comércio internacional.

As redes sociais

O tipo de rede social referida para empreendedores não é para ser desenhada nos moldes de um Orkut ou um Facebook (redes sociais de amplo espectro e genéricas), embora compartilhe de várias propriedades estruturais semelhantes.

A visão seria mais tendenciosa para ter atributos semelhantes aos da rede Linkedin ou Ning. Na rede Linkedin o foco é em conexões profissionais e em grupos organizados, dentro da rede, por assuntos de interesse comum e específico. Ou seja, temos uma rede alargada abrangendo diversos segmentos (indústrias) e níveis profissionais, e simultaneamente temos diversas dimensões onde se discutem assuntos individualizados e focados num tema específico e restrito. No caso do Ning, na inscrição já se define em qual grupo, de um tema específico, se participará.

As vantagens, para os pequenos empreendedores, seriam a comunicação e a exposição de seus produtos e serviços por um custo baixo. Também, haveria um incremento geométrico na probabilidade de, por meios destes contatos já direcionados (com mesmo foco de interesses), surgirem contatos de negócios. Além de, numa estrutura destas, criar uma blindagem ou um amortecimento à influência de crises econômicas/financeiras externas ao ambiente de negócios dos pequenos empreendedores.

Com relação à última colocação, cabe um esclarecimento de como essa blindagem poderia funcionar. Fazendo uma analogia com a rede de comunicação física (a internet) existem estudos sobre caminhos críticos ou alternativos. Caso haja falha de comunicação em alguns nós da rede imediatamente caminhos alternativos são definidos, seria um princípio equivalente. Outro exemplo de analogia seria a rede de energia elétrica que em caso de falha de um circuito, existem circuitos alternativos automaticamente acionados para atender a demanda de uma região. Assim, a rede de empreendedores também teria seus circuitos alternativos de contatos e de demanda de seus produtos e serviços.

A par da perspectiva de negócios existe uma outra visão estratégica fundamental e que é importante sublinhar. Com a expansão da internet vários paradigmas sobre a informação, seu valor e sua contextualização, estão a mudar. Já não é tão fácil passar informação inverídica ou condicionar as massas a um modelo imposto de políticas ou a direcionamentos sociais e econômicos. A informação flui livremente e rapidamente pela rede, o que demanda transparência e fidedignidade ao divulgar informação, pois instantaneamente essa informação é verificada, endossada ou criticada por milhares ou milhões de usuários da rede. Esta visão é corroborada pela sentença de Gilles Lipovetsky, sociólogo e filósofo francês: “A rede favorece uma sociedade descentralizada, mais autônoma e democrática, contrária à massificação.”

O contraponto ao parágrafo anterior poderia ser a capacidade analítica individual de avaliar a informação e ponderar sobre sua origem e seus fundamentos. Para que haja esse discernimento com base, é necessário conhecimento. Esta é outra função da rede de empreendedores, disponibilizar uma ampla base de conhecimento de modo a permitir não só uma visão abrangente do ambiente que envolve os pequenos empreendedores, como também divulgar costumes, culturas, práticas e metodologias que facilitem sua interação no mercado global e local.

Outro ponto importante é a localização. Cada vez mais a localização é delegada para segundo plano de importância, no contexto da globalização. Já é comum grupo de trabalho de empresas multinacionais ter, na composição da equipe, elementos que estão localizados em diversos pontos globo. Também já é prática corrente a produção globalizada (exemplo: indústria automotiva). E, também, já é comum a prestação de serviços de call centres (centros de atendimento telefônico) localizados fisicamente em um país (explo: Índia) atenderem clientes em outros países.

Como corolário da afirmativa anterior, acredito que a definição marshalliana de arranjos produtivos locais (APLs ou Clusters em inglês) irá enveredar para uma nova linha de definição de “clusters virtuais”, isto é, que como aglomerados de empresas com a mesma dinâmica econômica não necessitarão ter como premissa a proximidade física nem uma forte relação com os agentes locais. É aqui que a nova economia e a evolução das redes sociais terão um de seus pontos de influência.

Relação redes sociais e o desenvolvimento de negócios

As reflexões abaixo tiveram como base um artigo da AT&T cujo título é “The Business Impacts of Social Networking” (1).

Algumas premissas sobre as redes sociais antes de discorrer sobre a sua influência nos negócios:

  • As ferramentas disponíveis aumentaram largamente as conexões ativas entre as pessoas. No entanto existem estudos, entre eles, o número de Dunbar que estipula como  limite humano a ter em torno de 148 conexões (relacionamentos) estáveis. Será que ainda se pode considerar esta limitação para os nativos digitais e com as novas tecnologias?
  • Na rede é possível virtualmente em seis passos entrar em contato com qualquer pessoa que esteja conectada na rede. Isto é, a pessoa que conhece um terceiro que conhece um outro que …que pode colocar você em contato com quem você quer.
  • As ligações mais fracas (na rede) criam mais valor do que as ligações fortes. Isto é, conclui que é mais fácil desenvolver negócios com criação de valor com pessoas que não tenha fortes laços de conexão (relacionamento).
  • Long Tail (cauda comprida). Em vez de focar em campanhas para atingir uma massa específica potenciais clientes com um produto popular, existe um mercado similar para vários produtos que atendem diversos nichos de mercado. Este é um dos novos conceitos da nova economia.
  • Os nativos digitais, isto é, quem já nasceu com a internet, celulares, e toda uma tecnologia ubíqua disponível. O efeito que essa geração trará ao mercado, aos costumes, necessidades e aspirações futuras ainda está em fase de formação e evolução.

Como as empresas irão mudar, se quiserem sobreviver nesta nova economia e com a influência das redes sociais?

  • Têm que mudar sua forma de se comunicar, irão utilizar multimídia, ter uma presença na rede e exercitar a interatividade. Iniciarão pela presença na rede, desenvolverão a interatividade, haverá um envolvimento de todos os interessados (stakeholders) nas ações e resultados da empresa e ela tenderá a um comportamento (ações e responsabilidade) comum e sustentável no longo prazo.
  • As empresas mudarão a sua visão, mudarão a sua organização e desenvolverão a inteligência coletiva com participação dos colaboradores, clientes e fornecedores.
  • O relacionamento em rede será um fator chave para a excelência dos colaboradores pois será uma fonte de informação para aprimorar o conhecimento e capacidades. A mobilidade funcional incrementará e as motivações e carreira funcional serão adaptadas à nova realidade.
  • Os sistemas e as telecomunicações sofrerão mutações e a adaptação a essas alterações será diferente de empresa para empresa.
  • As redes sociais poderão incrementar o lucro.

Quais são os desafios associados a essas transformações no contexto das empresas?

  • Um novo conceito de retorno sobre investimento (ROI) deverá ser aplicado. A mudança será mais sociológica com visão para a Web 2.0, que é a “rede” das redes sociais, do espírito colaborativo e comunitário e do desenvolvimento de inteligência coletiva (orkut, facebook, youtube, flickr, blogs, twitter, Wikis, etc.).
  • Nova perspectiva do que é a segurança e de como implementá-la sem prejudicar as interações intra e inter empresa.
  • Propriedade intelectual será outro ponto crítico. A partir do momento que se desenvolve inteligência colaborativa, como, de quem e o quê deverá ser regido pela legislação de direitos e de propriedade intelectual.
  • A adoção das novas filosofias, tecnologia e visão pelos colaboradores. Existe uma inércia e resistência ao novo (à mudança) natural ao ser humano, pois essa mudança trás insegurança e instabilidade.
  • Capacidades de armazenamento e localização da informação terão novas configurações, dimensionamentos e estratégias.
  • A inter-operação com o incremento das ações colaborativas entre as empresas, clientes e fornecedores induzirá à criação de um volume maior de processos e troca de mensagens e informação que deverão permitir e obedecer a políticas de autenticação sem que se altere os níveis de segurança das comunicações internas e externas das empresas.
  • Velocidade será um fator chave. No caso do artigo da At&T, a referência é em relação ao tempo de desenvolvimento de uma aplicação e seu estágio de maturação. No entanto, alargando o espectro, o desenvolvimento de qualquer produto ou serviço, assim como a atualização das ferramentas que as empresas utilizarão para desenvolver os seus negócios terão que ser atualizados (as) em tempos recordes, o que leva à necessidade de redesenhar os processos de avaliação de risco e assim como o desenvolvimento dos novos produtos.
  • O aumento da mobilidade no trabalho será um desafio para empresas no que respeita a manter o capital intelectual na empresa.
  • Como capturar valor com a adoção de redes sociais será um desafio. O frágil equilíbrio entre gerenciar as atividades e interações para captura de valor e não extrapolar os limites para não entrar no campo da invasão de privacidade e do monitoramento/escuta (explo: “Big Brother”) será outro ponto crítico.

Na sequência

No próximo artigo trataremos de algumas propriedades das redes sociais como: centralidade, densidade, caminho mais curto, alguns modelos de redes de crescimento contínuo, “small worlds”, redes sem escala, etc.

E no terceiro artigo procuraremos discorrer um pouco sobre o comércio internacional na perspectiva do modelo ricardiano e de outros, da nova economia, que levam em consideração as barreiras geográficas (naturais e artificiais).

_______________________________________________

(1) – Disponível em: http://blog.earlystrategies.com/wp-content/uploads/2010/02/WP-soc_17172_V02_10-16.pdf

6 respostas para “Redes Sociais e Desenvolvimento de Negócios”

  1. Web 2.0 e Comércio Electrónico

    Sem dúvida que dos canais de comunicação existentes, é a internet e o fenómeno da web 2.0 que mais potencial têm para desenvolver novos conceitos de networking e de “clusters virtuais” como falou no artigo.
    Sou da opinião que a tendência a longo prazo será o aperfeiçoamento do comércio electrónico, bem como das redes sociais. Creio que não faltará pouco para cada empresa ter o seu próprio “Facebook /Linkedin” apenas para os trabalhadores.

    Hoje em dia ainda existe receio para as compras online , mas esse medo irá desaparecendo ao longo dos tempo com os novos sistemas de segurança.

    Cumprimentos e continuação de bom trabalho

    1. Olá Tiago,

      Muito frio por aí?
      Muito boas, as sua ponderações!

      Sim, sim! O que observamos, hoje, são os primórdios de uma maneira totalmente diferente de desenvolver negócios e relacionamentos, onde a ubiquidade tecnológica será o que dará o tom.

      Recentemente ouvi o chavão, de uma pessoa teoricamente (ou pseudo-) bem informada e relativamente bem posicionada: “a internet separa (isola mais) as pessoas”. Recusei-me a contra-argumentar, preferi ignorar, pois isso só mostra a falta de visão e ignorância sobre o que está acontecendo em volta. Essa “separação” mencionada só acontecerá com os “analfabetos digitais”, por isso a importância da educação, aliás como sempre foi e é importante.

      Opiniões e chavões como o referido, de indivíduos em cargos de direção, é o que levará várias empresas a sucumbir antes que essa nova realidade se torne cotidiana. Pois, como sabemos, a inovação não é mais um “luxo” para nenhuma empresa, é uma condição de sobrevivência e de perenidade.

      Grande abraço do tio!
      Mário

  2. Ótimo artigo!!
    E,lendo os comentários do Tiago posso acrescentar que as empresas já estão se organizando nas atuais redes de relacionamento como o LinkedIn. Portanto, as migração das redes sociais para as redes internas é questão de tempo.
    Estou apostando, também, na criação de um Twitter ou Blogs Corporativos com o objetivo de divulgar informações e sugerir inovações para as organizações.
    Abraço.

    1. Olá Magnani,

      Muito obrigado por suas palavras!
      Muito boa, a sua informação sobre a já existente tendência de adesão às redes, não tem outra forma!
      Quanto à sua aposta, vou apostar junto!
      Eu até estenderia um pouco a perspectiva, seria um tipo twitter mais blog mais “comunidades virtuais”. O twitter para “pilulas” de info e educação; os blogs para comunicação e conceitos mais alargados e insights; e o ambiente de “comunidade virtual” para os brainstorms (learning organizations), inovação, relações humanas, motivação e performance.

      Grande abraço!
      Ferreira
      PS: precisamos marcar um “brainstorm”…rsrsrs

  3. Embora o enfoque que você trata este tema não seja o meu (seu olhar parte da empresa). Gostei do texto por tratar de um tema importante como as redes social e suas consequências no cotidiano das pessoas. Em breve lerei os outros

    Grande abraço

    Márcio M. Rocha

    1. Olá Márcio,

      Obrigado pelo comentário, ainda mais vindo de tão ilustre e letrado amigo…rsrs
      Aguardo sua crítica importante sobre os outros três artigos sobre princípios/conceitos sobre as redes sociais que, ao meu ver, ficaram sofríveis, mas que devem atender o objetivo de nortear futuras pesquisas dos interessados sobre o assunto (na área de modelos matemáticos).

      Grande abraço,
      Mário

Deixar mensagem para marioferreira Cancelar resposta